sexta-feira, 11 de setembro de 2015

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO ARQUILAU DE CASTRO MELO

DISCURSO ACADEMIA ACREANA DE LETRAS
Senhora Presidente
Senhores Acadêmicos
Autoridades.
Senhoras e Senhores

     A Academia Acreana de Letras, através de eleição presidida, na época, pelo confrade Clodomir Monteiro, a quem presto minhas homenagens, houve por bem distinguir-me com a cadeira de nº. 36 que tem como patrono Nelson Lemos Bastos e como fundador o acreaníssimo e saudoso Omar Sabino de Paula. Daí decorre a incumbência de recordá-los nesta cerimônia, tarefa que exerço com muito gosto.
    A professora doutora e confreira Maria José Bezerra, em seu trabalho intitulado “JORNAL O ACRE NOS CONTEXTOS DOS ANOS 30 E 40, DO SÉCULO XX”, dá conta que Nelson Lemos Bastos, era oficial da Marinha e atuava também como jornalista redator do Correio Marítimo, órgão classista da Marinha Mercante Nacional e do Jornal “O Acre”, entre outros”.
   Já o fundador e meu antecessor na cadeira de número 36, foi Omar Sabino de Paula, que nasceu em Vila Castelo, hoje município Manoel Urbano. O Dr. Omar, como era conhecido, foi um intelectual de seu tempo, transitando pelos três poderes do Estado, sempre exercendo cargos relevantes.  Foi vice-governador na gestão Jorge Kalume (1967-1971); Deputado Federal; Deputado Estadual constituinte de 1963 e, nessa condição, fez consignar um artigo na nossa primeira Constituição estabelecendo que “A lei disporá sobre a criação e instalação da Universidade do Estado do Acre”. Era a semente da futura Universidade Federal do Acre. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito da UFAC, foi seu professor em diversas matérias  e, depois, foi Reitor da própria UFAC.
     Foi Promotor Público de Xapuri. Nomeado para o cargo de Juiz de Direito de Feijó, não tomou posse porque veio a ser nomeado, em seguida, para o cargo de Vice-Governador. Do Trabalho intitulado “UM DOS PIONEIROS DA CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE”, também, da Professora e confreira Maria José Bezerra, colho o seguinte lanço: “A atividade preferida pelo Dr. Omar Sabino sempre foi o magistério. No curso de sua vida demonstrou preocupações quanto a elevação nível cultural dos acreanos, sendo desde o tempo de estudante secundarista um dos organizadores dos movimentos dos estudantes daquela época, para a fundação de uma Universidade, o que possibilitaria aos jovens da região ter acesso à formação em nível superior e, desta forma, contribuírem para o desenvolvimento sociocultural da terra e da gente do Acre”.
Senhoras e Senhores:
Penso, sinceramente, que fui muito ousado mesmo a inscrever-me para uma cadeira desta augusta Academia, eu que sou autor de pequenos e modestos trabalhos, aqui cito dois deles: um cerca da expedição de Euclides da Cunha ao Acre, em 1904, e outro sobre os autores da letra e da música do Hino do Acre, respectivamente Francisco Mangabeira e Mozart Donizetti. Euclides da Cunha já famoso com a colossal obra “Os Sertões” e veio ao Acre em missão oficial do Governo Brasileiro para demarcar a fronteira brasileiro-peruana e passou oito meses navegando pelo Rio Purus e seus afluentes. Escreveu diversos artigos, ensaios e crônicas sobre a Amazônia e produziu frases antológicas e marcantes como por exemplo: “O homem aqui ainda é um intruso, chegou sem ser esperado quando a natureza, ainda ornamentava seu vasto salão”; “O seringueiro realiza uma tremenda anomalia: é o homem que trabalha para escravizar-se”. “ A estrada de seringa é como um polvo a devorar o seringueiro.” Euclides prometia escrever um livro sobre sua viagem, cujo título era bem sugestivo “Amazônia, um Paraíso Perdido”.  Dizia aos amigos que esse seria seu segundo “livro vingador” e que seria ainda melhor do que o avassalador  “Os  Sertões”. Dizia que os Sertões era a obra da juventude enquanto o Paraíso Perdido seria a obra da maturidade.  De certa forma somos órfãos desse livro de Euclides, eis que o escritor veio a ser assassinado no Rio de janeiro, pouco tempo depois de deixar o Acre.
No outro trabalho chamado de “Por Trás da Letra e da Música do Hino Acreano” quis fazer uma homenagem ao poeta Francisco Mangabeira, autor da letra do nosso hino e também patrono desta Academia e a ao maestro Mozart Donizetti que veio a  musicar o hino, resultando num trabalho harmonioso e perfeito, embora ambos não tenham se conhecido. Francisco Mangabeira foi o médico da Revolução Acreana que veio a falecer de malária, quando findou a revolta vitoriosa e já voltava para sua terra natal, a Bahia. Já o maestro Mozart Donizetti era um talentoso músico cearense que viveu em Tarauacá até os anos 30. Em parceria com o Promotor de Justiça e intelectual José Potyguara produziram e encenaram várias peças teatrais naquela cidade.
 Afora esses dois pequenos trabalhos temos produzido algumas crônicas, do cotidiano de nosso povo. As crônicas são tidas por muitos um gênero menor da literatura. Essa, contudo, não era a opinião do maior escritor brasileiro, fundador da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis. Machado dizia que: “A crônica fareja todas as coisas miúdas e grandes, e põe tudo em pratos limpos.”
A tarefa de escrever é espinhosa, mesmo para os grandes escritores. Graciliano Ramos, numa extraordinária  e feliz comparação entre os trabalhos de um escritor e de uma lavadeira, disse em entrevista certa vez:
“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. 
Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. 

Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Nesse - digo eu - momento de reconstrução da Academia há muito o que fazer mas um desafio que me parece urgente que é o de fomentar a leitura especialmente entre os jovens, criando e mantendo círculos de leituras.
Em pesquisa recentemente realizada pelo IBOPE, Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, constatou-se que o brasileiro lê, apenas em média, 4,7 livros por ano. Quando indagada sobre o que prefere fazer em seu tempo livre, a maioria da população opta pela televisão (77%) - a leitura foi a quinta opção citada pelos entrevistados, atrás de hábitos como ouvir música e rádio e descansar.
O Sul é a região onde mais se lê (média de 5,5 livros por pessoa/ano). A região Norte é aonde menos se lê, apenas 3,9 livros por ano. Convenhamos, é muito pouco. Urge, pois, que a Academia assuma uma campanha de incentivo a leitura contribuindo para a formação de melhores cidadãos e quiçá de novos escritores.

Para terminar, senhora presidente, preciso registrar a minha alegria de estar tomando posse neste espaço que para mim tem um significado especial. Aqui advoguei, me fiz Juiz de Direito, Desembargador e Presidente do Tribunal e dei inicio as obras para que a velha sede do TJ viesse a se transformar num Centro de Cultura que, com muito orgulho recebe e abraça a Academia Acreana de letras, tão bem representada nesta noite. Muito obrigado. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário