Entrevista concedida por J.G. de Araújo Jorge
a Carlos Camargo, na sucursal e “Manchete”, em Porto Alegre,
1969.
Ele nasceu na vila de Tarauacá, antigo
Território do Acre num dia 20 de maio de 1914, há vários anos passados. "Os
anos passados, são aulas aprendidas" diz o poeta, que é professor, no
Colégio Pedro II. Suas fãs, milhares e milhares, se contradizem: umas acham-no
com um "que" atraente; outras afirmam, "beleza não é tudo"
E são estas que dizem: "O que ele tem de belo no exterior, esconde (olhos
azuis atrás de óculos escuros). Mas todas são unânimes e agradecidas a ele
pois, tudo o que de belo tem, no interior, exterioriza através de suas poesias.
Ele é J.G. de Araujo Jorge, o único poeta
brasileiro que já vendeu mais de um milhão de livros. E talvez, o menos
divulgado de todos. Seus leitores se encarregam disso e também da parte de
relações públicas, e elas (as obras de JG pertencem, com um egoísmo
impressionante, às fãs) são excelentes, nesse trabalho.
E à elas, dedicamos este questionário, que
foi respondido pelo "poeta do amor eterno", e preenchido em nossa
sucursal de Porto alegre onde ele veio para o lançamento dos "Jogos
Florais" gaúchos:
Quinze
respostas de JG
P- Que
acha da poesia em si?
R- A poesia é a vida acontecendo no poeta.
Afinal o que é o poético senão o poeta? A vida é apenas barro. Tu serás ou não,
Deus.
P- O
que acha do amor?
R- É a capacidade de "ser". O homem
ama amplamente, e de modo multiforme. Sem amor não se "é". Ama-se ao
próximo como preconizava Cristo há quase dois mil anos: para se somar o mundo.
Ama-se "a próxima ..." para a multiplicação...
P- Onde
busca sua inspiração? Escreve sempre?
R- Não busco. Ela me encontra. Está na vida.
Passo meses, anos, sem escrever uma linha. Escrevo um livro, em poucos dias.
Acontece.
P- Qual
seu meio preferido de distração?
R- Olhar. Há muita gente que tem apenas olhos
para ver. A capacidade de se ter, "olhos de olhar" a vida, recolhendo
dela tudo o que nos pode oferecer é mais empolgante.... e o mais barato de
todos os divertimentos.
P- Qual
o maior poeta nacional?
R- Os poetas são como instrumentos. Não posso
dizer entre um violinista, um pianista, um saxofonista, qual o maior. Cada um é
grande no seu instrumento. Citarei poetas de minha predileção: Moacyr de
Almeida, Raul de Leoni, Augusto dos anjos, para falar dos que já partiram, mas
continuam com a gente, apenas com a sua poesia.
P- Qual
a melhor poesia que já escreveu?
R- Difícil. As poesias vão marcando "momentos"
de minha vida, como os livros fixam "etapas". Cada uma delas
representa, portanto, algo de particular. Mas dá-se o fato curioso: às vezes as
poesias de que mais gosto não são as de que gostam mais meus leitores. Eles, ou
elas, por exemplo, preferem as minhas poesias líricas: eu prefiro as sociais, e
até as políticas.
P- Qual
o tipo de mulher que mais lhe agrada?
R- A que me compreende. Só a compreensão liga
realmente um homem a uma mulher. O resto é efêmero. Mas como me pergunta a
maior qualidade na mulher para me atrair, eu responderia: a sua feminilidade, a
sua ternura, a sua capacidade de dar-se.
P- Qual
a diferença do romantismo do passado e o da atualidade?
R- Costumo dizer que o romantismo não foi
apenas uma escola literária, mas um estudo de espírito que independe de
escolas. Os modernos são também românticos, apenas o romantismo do nosso tempo se
apresenta com características diversas do romantismo do Século XIX, o chamado
"mal do século". O romantismo do homem de nossos dias é um romantismo
sensorial, que tem raízes profundas na realidade.
P- A
conquista do espaço fez decair o valor dos termos poéticos referentes à Lua,
estrelas, etc?
R- Ainda não. Quem sabe lá daqui a alguns
anos? Escrevi certa vez que a minha poesia "era como aquela face da Lua
que ninguém vê, voltada sempre para o infinito." E hoje, russos e
americanos já conseguiram fotografar a outra face da Lua... Evidentemente terei
de mudar a minha poesia para outro planeta, ou satélite, mais inacessível...
P-
Existe amor platônico?
R- Deve haver: o dos idealistas, o dos
frustrados ou doentes. Mas o amor é como a poesia, ou como a flor, - por mais
belo que seja, ou por isso mesmo, precisa da seiva que vem do chão, do trabalho
das raízes.
P-
Acredita no amor à primeira vista?
R- Não. Acredito em simpatia. O amor exige
tempo para definir-se, plasmar-se. O amor não nasce amor, como da semente não
nasce a flor.
P- Com
que idade escreveu suas primeiras poesias?
R- Com 12 anos mais ou menos. Meu primeiro
livro (Meu Céu Interior,1934) é uma
coletânea de poemas escritos entre 14 e 17 anos. Escrevi minha primeira poesia
na mesma época em que era o capitão do "time" campeão de futebol do
Colégio Pedro II, onde estudei.
P- O
que mais lhe agrada na vida?
R- A vida. Nada há de mais extraordinário.
Veja o que disse, neste final de soneto:
"Podes tudo pensar, tudo criares
em histórias e cantos singulares,
o que o sonho não pode, a alma não deve,
e ainda assim hás de ver que não és louco,
que tudo que pensaste é nada e é pouco,
ante o que a própria vida ensina e
escreve!"
P- Que
escrito dedicaria à Valentina a astronauta russa, primeira mulher a devassar os
espaços?
R- "Tu que não crês em Deus
mas que O olhaste de perto, em teus olhos
traze para os homens a sua muda mensagem
ainda incompreendida."
Nota: esta entrevista encontra-se publicada
no site oficial de J.G. de Araújo Jorge, de onde retiramos.
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