Gilberto Braga de Mello
Fui à Brasília pela primeira vez em 1980. O
Brasil ainda vivia apeado pela ditadura militar. Metido até o pescoço no
movimento estudantil, quis conhecer o Congresso Nacional e arriscar ver
pessoalmente os grandes líderes da oposição ao regime. Mas no Salão Verde da
Câmara dos Deputados, alguém me puxou pelo braço: – esse você não esperava
conhecer, mas vai gostar! Então abordou um senhor que saia do Plenário: –
Deputado, o Gilberto é seu leitor, recita seus poemas de cor.
Assim conheci um dos poetas mais lido do
Brasil. E agora me ocorre que talvez ali, naquele momento, eu também tenha
conhecido o primeiro acreano na minha vida. Surpreso, ouvi sua apresentação: –
Muito prazer, JG de Araújo Jorge.
Jorge Amado, um dos escritores mais querido,
lido e amado pelos brasileiros, não raro era questionado por ser lido por
milhares, não apenas por meia dúzia, maldição que castiga grandes escritores.
Muitos críticos opõem popularidade e qualidade. Um preconceito besta.
JG de Araújo Jorge foi na poesia como Jorge
Amado nos romances. O povo leia o que ele escrevia, recitava seus poemas,
sonhava com suas musas e se encorajava com suas ideias.
Começou publicando poemas nos jornais do Rio
de Janeiro, no começo dos anos 1930. Incomodou o Estado Novo de Getúlio Vargas
e acabou na cadeia.
Sua poesia romântica encantou gerações. A
esperança viva nos seus versos corresponde a uma atuação política coerente.
Eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1970, 1974 e 1978 – estava lá na
Câmara Federal em 1980, quando a musa do improvável me deu o privilégio de
conhecer o Poeta do Povo.
Falecido no Rio de Janeiro, em 1987, sua
poesia tem força para sobreviver ao esquecimento da critica e a negligência do
mercado editorial. Impressiona sua presença na internet. É dos mais procurados
nos sebos e site de livros usados.
JG de Araújo nasceu em 20 de maio de 1914.
Agora é o seu centenário e a Academia Acreana de Letras quer o resgate da sua
importância. O presidente Clodomir Monteiro iniciou esforços para tornar 2014 o
Ano JG de Araújo Jorge.
A motivação da Academia é inconteste: o poeta
que encantou o Brasil era um acreano do pé rachado. Um menino nascido José
Guilherme, lá em Tarauacá.
> Artigo publicado originalmente em Jornal A Gazeta do Acre (21.05.2014)
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