terça-feira, 9 de julho de 2013

DISCURSO DE FRANCISCO THAUMATURGO

V. EXCIA. É UM AUTÊNTICO ACREANO[1]


“Fazemos votos que o vosso governo gere a paz para que possa haver trabalho e com este, possa gerar recursos tão necessários ao bem estar do povo. Aceitai, Exmo. Sr Jorge Kalume, as homenagens da oposição.”

Estas foram as palavras finais da oração pronunciada pelo deputado Francisco Thaumaturgo, em nome da bancada do Movimento Democrático Brasileiro, por ocasião da posse do deputado federal Jorge Kalume, no cargo de Governador do Acre, em sessão solene realizada na Assembleia Legislativa. O discurso proferido pelo deputado Francisco Thaumaturgo obteve grande repercussão nos meios políticos, dada a sobriedade e pontos de vista expendidos pelo orador.

A oposição representada pelos deputados que integram a bancada do MDB, com assento na Assembleia Legislativa, comparece hoje a essa casa para assistir a posse de V. Excia. no cargo de governador eleito pelo voto indireto.

Talvez nosso gesto sugira aos menos avisados, comentários os mais divergentes uma vez que a esta casa não nos fizemos presentes quando da realização da sessão, na qual procedeu-se a eleição cujo resultado, embora sabido de antemão, proclamou o nome de V. Excia. como eleito.

Segundo nosso entender, um caso difere fundamentalmente do outro, embora interligados. Naquela ocasião, cumprimos instruções da direção nacional de nossa organização partidária, com a qual concordamos por motivos vários.

O MDB, determinando o não comparecimento das bancadas estaduais às Assembleias, no pleito indireto, para a escolha dos governadores, cumpria missão histórica, erguendo na oportunidade e daquela forma, seu protesto ao expediente de afastar-se o povo da manifestação nas urnas para a escolha dos seus governantes.

Quanto a nós, regionalmente, essa essência daria ensejo que se a eleição se processasse à vontade, com a participação de um só bloco partidário, sem que criássemos quaisquer óbices, uma vez que o candidato era um “autêntico Acreano”.

Com esse gesto estávamos aceitando uma situação de fato, tomando por norma aquele velho conceito de que “a política é muitas vezes a arte de escolher entre o mau e o sofrível”.

No atual sistema político partidário instaurado em nossa Pátria, foi o próprio governo de após revolução, que nos garantiu o direito de existir como organização partidária, e estribados neste direito, é que aqui estamos, presentes à posse de V. Excia., em reverência a vosso nascimento e com o intuito de fixar nossa posição política, frente ao governo que se instala.

Somos pois, oposição, dentro do esquema político do Estado, mas queremos deixar bem claro que levamos muito em conta, que V. Excia. é, repito, um autêntico acreano, assim sendo, merece tratamento  diferente do que vinha acontecendo.

Saúdo pois V. Excia. em nome do Movimento Democrático Brasileiro, em nome dos meus companheiros de bancada, pela investidura hoje nesta casa, no cargo de Governador do Estado do Acre e do seu povo. Para ser franco, sinto-me desencorajado para felicitá-lo por este acontecimento. A esta hora já V. Excia. tem conhecimento da herança que lhe põem nas mãos e a tremenda responsabilidade que vai lhe pesar  sobre os ombros.

Peço a Deus que V. Excia. tenha as forças necessárias para encontrar o caminho certo para levar o Acre aos seus reais destinos.  Não “em termos de milagres, mas fazendo aquilo que represente o sonho dos acreanos, isto é, realizando o indispensável para que se restaure, para sempre, na alma do povo, a confiança nos seus governantes”.

Propositalmente parodiei trecho da carta que V. Excia. dirigiu ao ilustre deputado Omar Sabino de Paula, publicada no jornal O IMPARCIAL, que se edita nesta capital, cujos conceitos ali emitidos, calaram bem em nossas almas. Especialmente quando manda escoimar da programação da posse “qualquer homenagem que significassem gasto e ostentação no  propósito de ver cumprido tal determinação”.

Afirmou ainda “não posso e nem devo permitir finas iguarias dos bons banquetes, quando sei que em milhares de honrados lares, tenras criancinhas e  desalentados pais, sofrem as maiores privações”.

Esperamos que um profundo sentimento de humanismo tenha ditado aquelas palavras e que tal disposição seja constante no vosso governo, pois se assim o for, já de antemão  pode V. Excia. contar com nossa contribuição, dentro das possibilidades de uma  oposição construtiva e bem intencionada. Que sempre gozou nossos atos no panorama político administrativo do Estado. Estaremos sempre dispostos a apoiar tudo que V. Excia. desejar fazer, em que esteja em jogo os altos interesses do Estado e as urgentes e necessárias medidas que visem melhorar a situação do povo acreano.

Tem V. Excia. uma urgente e imediata tarefa! A de realizar o governo ao povo que se encontra dissociado. Não impondo à força uma ordem irrefletida e falha, e sim, uma ordem “que se reflita na natureza do nosso povo e sempre com o elevado intuito de reconciliar todo mundo dentro da comunidade”.

V. Excia. deste momento em diante, é o chefe do Poder Executivo. Autoridade máxima do Estado, com funções elevadíssimas de coordenador, também, das funções administrativas e representativas. Podendo, portanto,  promover e orientar a política legislativa. V. Excia. pois, é quem vai ditar o comportamento na Assembleia Legislativa. Assim, aguardaremos tranquilos os dias que vêm,  para então modificar ou não esse nosso comportamento.

Não querendo mais alongar minhas palavras, renovo a V. Excia. nossas saudações ao novo Governador do Acre, fazendo votos que vosso Governo gere paz para que possa haver trabalho e com este, se possa gerar recursos tão necessários ao bem-estar do povo.

Aceitai, Exmº. Sr. Jorge Kalume, as homenagens da Oposição.


[1]Pesquisa e digitação de Clodomir Monteiro. Transcrição na íntegra do discurso  do Deputado Francisco Thaumaturgo, por ocasião da posse de Jorge Kalume como governador do Acre. Com chamada de  primeira página, e na integra à pagina 2 do Jornal O IMPARCIAL, do dia 24.9.1966, Nº 07, em Rio Branco. Semanário, Editor Secretário, José Chalub Leite,  Diretor Responsável, Ubirajara Omena. 

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