A
arte do amor, da justiça e da verdade são as tintas com as quais cada ser
humano escreve seus melhores trabalhos espirituais no humano, e o humano no
espiritual.
Clodomir
Monteiro
Presidente da Academia Acreana de
Letras
28.06.2013
A celebração com
panegíricos aos confrades e confreiras da Academia Acreana de Letras, com
residências transferidas para outro endereço, com certeza inefável em paraíso
não perdido, é conhecida como Homenagem Póstuma, geralmente aplicável por
outros sodalícios. Guarda relações comuns às de várias associações públicas e
privadas, e, contudo, oferece uma característica especial, especificamente, no
que a torna fascinante e desejada: a imortalidade.
Mas como falar em
homenagem póstuma a imortais. Homenagem Póstuma para dar plausibilidade à vida
sem sentido se finita aqui, no cotidiano. Nela recordamos do homenageado suas
qualidades éticas, morais e espirituais explícitas, indiscutíveis ou
presumíveis, que dependendo da dimensão social, quanto ao impacto do tempo,
fisicamente vivido na manutenção ou modificação do mundo que o precedera.
Póstuma por repercutir
apenas após a contemporânea e passada existência, ela, não necessariamente
anuncia ou postula sua continuidade. É só um registro, deferência, ou prova de
que a jornada do homenageado vai ficar congelada por alguma breve fração de
tempo, num futuro deverá ser retomada. A postumidade ou posteridade das obras
do deferenciado, no caso do silogeu, não terminou, rigorosamente, pois quem homenageia
jamais o retirará de seus registros e história. A homenagem no caso detém outro
tipo de configuração. A principal característica do então homenageado em
sessões solenes é a mesma que o acompanhou nesta fantástica usina filogenética.
Não é apenas a vida real, concreta, da duração biológica, que enseja as
homenagens, mas estas serão diametralmente proporcionais ao impacto deixado.
Contudo, por mais que a ponderabilidade biográfica possa permitir avaliações
diferenciadas, jamais determinará a exclusão dos panegíricos. Estes simbolizam a
fusão entre criatura e criador, de tal magnitude, que sempre o biográfico
perdurará.
Os homenageados desta
tarde noite de 10 de julho de 2013, Francisco Thaumaturgo e Manoel Mesquita,
adquiriram desde sua inscrição no tempo cronológico, ou não, mas desde sua
eleição de ingresso e posse, merecendo ou não, a posteridade interminável,
permanente. Ao seguir sua viagem natural, a cultural mais se evidencia e,
dependendo de variáveis favoráveis, mais vivos ainda serão que suas próprias
biografias. A bibliografia revestirá a outra bio, de um escudo protetor
construído pelo cultivo maravilhoso da cultura, quanto ao reconhecimento de
qualidades tangíveis, e, principalmente intangíveis adquiridas e desenvolvidas
com habilidade e dedicação por esses membros portadores da imortalidade do
espírito humano. Mesmo que as biografias, ou bibliografias estudadas, vierem a
toldar ou relativizar, reciprocamente, sob a lupa de critérios filosóficos ou
estéticos, uma à outra, os premiados portadores de cadeiras jamais as perderão.
Ao contrário, além de ser quase impossível, e em matéria de criação imaginária
o próprio quase confirma seu oposto, como homenagem permanente, pois o póstumo
jamais existirá.
Por ironia, ou
incongruente, que aparente, na verdade toda homenagem póstuma anula a próxima
homenagem póstuma, por mais que a queiramos repetir no futuro. Passado,
presente e futuro permanecem na memória da Academia Acreana de Letras, e cada
geração de novos escritores ou leitores garantirá a ininterruptibilidade das
linhas verticais e horizontais, das nominatas de patronos, fundadores e
sucessores.
Contudo, confirmando a
imortalidade especial do acadêmico das artes, e em especial, o da Academia Acreana
de Letras, a cada Panegírico que realizamos, mais se consolida a vida. O que
poderia ser apenas saudade ou submissão à falta de sentido ou de plausibilidade
da existência, passa a ser a garantia de que não apenas o homenageado permanece
em sua cadeira, mais vivo que nunca, ao receber na mesma ordem numérica, novo
parceiro do imaginário poético que nos faz espécie única, mas não desconectada
das demais. Ante, durante, sua efetividade, e depois, terá sempre o homenageado
a sua merecida emulação. Na vida, discurso e obra de seu sucessor, em mais uma
vaga da poltrona em que vai se transformando cada cadeira solitária da Academia
Acreana de Letras.
Mas então, qual a
necessidade da realização destes panegíricos? Eles amolecem os corações dos
mais rebeldes, coloca mais um manto de consolo e gratidão dos personagens
queridos de suas biografias, e provam a todos que a função da Academia não cumpre
apenas demandas de vaidade, políticas ou busca de poder. Levam-nos a concluir
que o espírito acadêmico pode ser vivido em cada uma de novas vidas, sendo nós
mesmos os contos, romances, poemas e grandes clássicos da literatura universal.
A arte do amor, da justiça e da verdade são as tintas com as quais cada ser
humano escreve seus melhores trabalhos espirituais no humano, e o humano no
espiritual.
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