DISCURSO ACADEMIA ACREANA
DE LETRAS
Senhora Presidente
Senhores Acadêmicos
Autoridades.
Senhoras e Senhores
A Academia Acreana de Letras, através de
eleição presidida, na época, pelo confrade Clodomir Monteiro, a quem presto
minhas homenagens, houve por bem distinguir-me com a cadeira de nº. 36 que tem
como patrono Nelson Lemos Bastos e como fundador o acreaníssimo e saudoso Omar
Sabino de Paula. Daí decorre a incumbência de recordá-los nesta cerimônia,
tarefa que exerço com muito gosto.
A professora doutora e confreira Maria José
Bezerra, em seu trabalho intitulado “JORNAL O ACRE NOS CONTEXTOS DOS ANOS 30 E
40, DO SÉCULO XX”, dá conta que Nelson Lemos Bastos, era oficial da Marinha e
atuava também como jornalista redator do Correio Marítimo, órgão classista da
Marinha Mercante Nacional e do Jornal “O Acre”, entre outros”.
Já o fundador e meu antecessor na cadeira de
número 36, foi Omar Sabino de Paula, que nasceu em Vila Castelo, hoje município
Manoel Urbano. O Dr. Omar, como era conhecido, foi um intelectual de seu tempo,
transitando pelos três poderes do Estado, sempre exercendo cargos
relevantes. Foi vice-governador na
gestão Jorge Kalume (1967-1971); Deputado Federal; Deputado Estadual
constituinte de 1963 e, nessa condição, fez consignar um artigo na nossa
primeira Constituição estabelecendo que “A lei disporá sobre a criação e
instalação da Universidade do Estado do Acre”. Era a semente da futura
Universidade Federal do Acre. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de
Direito da UFAC, foi seu professor em diversas matérias e, depois, foi Reitor da própria UFAC.
Foi Promotor Público de Xapuri. Nomeado
para o cargo de Juiz de Direito de Feijó, não tomou posse porque veio a ser
nomeado, em seguida, para o cargo de Vice-Governador. Do Trabalho intitulado
“UM DOS PIONEIROS DA CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE”, também, da
Professora e confreira Maria José Bezerra, colho o seguinte lanço: “A atividade
preferida pelo Dr. Omar Sabino sempre foi o magistério. No curso de sua vida
demonstrou preocupações quanto a elevação nível cultural dos acreanos, sendo
desde o tempo de estudante secundarista um dos organizadores dos movimentos dos
estudantes daquela época, para a fundação de uma Universidade, o que
possibilitaria aos jovens da região ter acesso à formação em nível superior e,
desta forma, contribuírem para o desenvolvimento sociocultural da terra e da
gente do Acre”.
Senhoras e Senhores:
Penso, sinceramente, que
fui muito ousado mesmo a inscrever-me para uma cadeira desta augusta Academia,
eu que sou autor de pequenos e modestos trabalhos, aqui cito dois deles: um
cerca da expedição de Euclides da Cunha ao Acre, em 1904, e outro sobre os
autores da letra e da música do Hino do Acre, respectivamente Francisco
Mangabeira e Mozart Donizetti. Euclides da Cunha já famoso com a colossal obra
“Os Sertões” e veio ao Acre em missão oficial do Governo Brasileiro para
demarcar a fronteira brasileiro-peruana e passou oito meses navegando pelo Rio
Purus e seus afluentes. Escreveu diversos artigos, ensaios e crônicas sobre a
Amazônia e produziu frases antológicas e marcantes como por exemplo: “O homem aqui
ainda é um intruso, chegou sem ser esperado quando a natureza, ainda
ornamentava seu vasto salão”; “O seringueiro realiza uma tremenda anomalia: é o
homem que trabalha para escravizar-se”. “ A estrada de seringa é como um polvo
a devorar o seringueiro.” Euclides prometia escrever um livro sobre sua viagem,
cujo título era bem sugestivo “Amazônia, um Paraíso Perdido”. Dizia aos amigos que esse seria seu segundo
“livro vingador” e que seria ainda melhor do que o avassalador “Os
Sertões”. Dizia que os Sertões era a obra da juventude enquanto o
Paraíso Perdido seria a obra da maturidade. De certa forma somos órfãos desse livro de
Euclides, eis que o escritor veio a ser assassinado no Rio de janeiro, pouco
tempo depois de deixar o Acre.
No outro trabalho chamado
de “Por Trás da Letra e da Música do Hino Acreano” quis fazer uma homenagem ao
poeta Francisco Mangabeira, autor da letra do nosso hino e também patrono desta
Academia e a ao maestro Mozart Donizetti que veio a musicar o hino, resultando num trabalho harmonioso
e perfeito, embora ambos não tenham se conhecido. Francisco Mangabeira foi o
médico da Revolução Acreana que veio a falecer de malária, quando findou a
revolta vitoriosa e já voltava para sua terra natal, a Bahia. Já o maestro
Mozart Donizetti era um talentoso músico cearense que viveu em Tarauacá até os
anos 30. Em parceria com o Promotor de Justiça e intelectual José Potyguara
produziram e encenaram várias peças teatrais naquela cidade.
Afora esses dois pequenos trabalhos temos
produzido algumas crônicas, do cotidiano de nosso povo. As crônicas são tidas
por muitos um gênero menor da literatura. Essa, contudo, não era a opinião do
maior escritor brasileiro, fundador da Academia Brasileira de Letras, Machado
de Assis. Machado dizia que: “A crônica fareja todas as coisas miúdas e
grandes, e põe tudo em pratos limpos.”
A tarefa de escrever é
espinhosa, mesmo para os grandes escritores. Graciliano Ramos, numa
extraordinária e feliz comparação entre
os trabalhos de um escritor e de uma lavadeira, disse em entrevista certa vez:
“Deve-se escrever da mesma maneira
como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma
primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o
pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem
uma, duas vezes.
Depois enxáguam, dão mais uma molhada,
agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão
mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é
que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem
se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para
enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Nesse - digo eu - momento de
reconstrução da Academia há muito o que fazer mas um desafio que me parece
urgente que é o de fomentar a leitura especialmente entre
os jovens, criando e mantendo círculos de leituras.
Em pesquisa recentemente realizada pelo IBOPE, Instituto
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, constatou-se que o brasileiro lê, apenas
em média, 4,7 livros por ano. Quando indagada sobre o que prefere fazer em seu
tempo livre, a maioria da população opta pela televisão (77%) - a leitura foi a
quinta opção citada pelos entrevistados, atrás de hábitos como ouvir música e
rádio e descansar.
O Sul é a região onde mais se lê (média de 5,5 livros por
pessoa/ano). A região Norte é aonde menos se lê, apenas 3,9 livros por ano. Convenhamos,
é muito pouco. Urge, pois, que a Academia assuma uma campanha de incentivo a
leitura contribuindo para a formação de melhores cidadãos e quiçá de novos
escritores.
Para terminar, senhora presidente, preciso registrar a minha
alegria de estar tomando posse neste espaço que para mim tem um significado
especial. Aqui advoguei, me fiz Juiz de Direito, Desembargador e Presidente do
Tribunal e dei inicio as obras para que a velha sede do TJ viesse a se
transformar num Centro de Cultura que, com muito orgulho recebe e abraça a
Academia Acreana de letras, tão bem representada nesta noite. Muito obrigado.