terça-feira, 5 de maio de 2009

ACREANO OU ACRIANO?


Luísa Galvão Lessa - Membro da Academia Acreana de Letras e Membro da Academia Brasileira de Filologia.

Tem-se observado, nos primeiros meses deste 2009, o uso surpreendente do adjetivo gentílico acriano ao invés de acreano. Este último tem o uso consagrado em meio à população regional. Indaga-se, então, quem resolveu, de última hora, mudar a forma de grafar o adjetivo? A Academia Acreana de Letras, Lei, Decreto Governamental, vontade popular?

Recomenda o bom senso e a política do idioma observar alguns pontos fundamentais. Uma língua não muda de uma hora para outra. As mudanças se dão de forma gradativa, sem que os falantes percebam. Habitualmente, essas mudanças ocorrem por forças de fatores internos ou externos, tais como influência de outro idioma, avanços tecnológicos que alteram ou modificam os hábitos de vida das pessoas, índice de escolaridade, fatores culturais etc. E, quando a vida muda, a tendência da língua é acompanhar as mudanças gradativas que se dão no seio de uma comunidade. Mas nada acontece da noite para o dia, exceto os casos expressos em Lei.

Aqui no Brasil, por Decreto, já se proibiu o uso da língua tupi. E aquelas pessoas apanhadas na rua, falando o idioma nativo, deviam ser punidas severamente. E, agora, também será assim? Quem for flagrado falando acreano ou escrevendo acreano vai ser preso? E quem tem num documento escrito ser acreano, também será castigado? Recomenda o bom senso ter-se cuidado e atenção com essas medidas repentinas. Tudo requer estudo, análise, pesquisa e, até mesmo, consulta popular. Já se mudou o fuso horário do Acre sem consulta à população, que hoje amarga o despertar no escuro para ir à escola, ao trabalho.

Considerando o caso epigrafado neste texto, passa-se a fazer um breve estudo de caso sobre o uso “certo” ou “errado” desse adjetivo acriano ou acreano.

I - ADJETIVOS PÁTRIOS

São os adjetivos que indicam a nacionalidade, a pátria, o lugar de origem dos seres em geral. Pode ser chamado de gentílico, quando designa grupos étnicos ou raça. A maioria desses adjetivos forma-se pelo acréscimo de um sufixo ao substantivo que os origina.

Os principais sufixos formadores de adjetivos pátrios são:
-aco, -ano, -ão, -eiro, -ês, -ense, -eu, -ino, -ita.

Vejam-se alguns deles:
Açores = açoriano;
Campinas = campineiro, campinense;
Goiânia= goianiense;
Lisboa = lisboeta, lisbonense;
Maceió = maceioense;
África = africano;
América = americano;
Ásia = asiático;
Europa = europeu.

II - ESTADOS DO BRASIL

Acre = acreano, acriano.

Segundo o Formulário Ortográfico, a forma adequada é acriano, mas, sem dúvidas, a forma preferida da população é acreano, considerando ser a forma usual do povo desde a criação do Território do Acre.
Assim, o uso faz a força e não o contrário; Rondônia = rondoniano, rondoniense (duas formas); Sergipe = sergipano;Teresina = teresinense; Santa Catarina = catarinense, santa-catarinense, catarineta, catarinete, caterinete, catarino, barriga-verde (sete formas); Goiânia = goianiense. São uns poucos exemplos a ilustrar o uso que se faz desses adjetivos, em obediência ao processo de formação de palavras e, também, em respeito ao uso eleito pela população.

III – REGISTRO EM DICIONÁRIOS RESPEITÁVEIS DO IDIOMA PÁTRIO: AURÉLIO, HOUAISS e NASCENTES

3.1. Provável etimologia

Topônimo Acre (Brasil) + -iano é uma provável alteração de Aquiri, forma pela qual os exploradores da região grafavam a palavra Uwákürü (ou Uakiry), vocábulo do dialeto Ipurinã. Em 1878, o colonizador João Gabriel de Carvalho Melo escreveu ao comerciante paraense, Visconde de Santo Elias, pedindo-lhe mercadorias destinadas à "boca do rio Aquiri".

Como em Belém o dono e os empregados do estabelecimento comercial não conseguissem entender a letra de João Gabriel ou porque este, apressadamente, tivesse grafado Acri ou Aqri, em vez de Aquiri, as mercadorias e faturas chegaram ao colonizador como destinadas ao Rio Acre - esta é a versão encampada pelo IBGE.

Todavia, há outras hipóteses: der. de Yasi'ri, Ysi'ri 'água corrente, veloz' ou do tupi a'kir ü interpretado como'rio verde'; var. acreano; cf. Nascentes (vol. II).

3.2. Acreano, adjetivo e substantivo masculino relativo ao Estado do Acre ou o que é seu natural ou habitante; acreano. (Houaiss)

3.3. Acriano - [Do top. Acre + -iano.]Adj. 1. Do, ou pertencente, ou relativo ao Estado do Acre. S. m. 2. O natural ou habitante do Acre. [É menos boa a grafia oficial, acreano.] (Aurélio). Mas não diz ser errada.

3.4. AcreanoAdj. S. m. 1. V. acriano. Aqui, também, o estudioso considera as duas formas. (Aurélio)

IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O filólogo Antônio Houaiss (foi meu professor e faleceu em 1989), autor do Projeto da atual Reforma Ortográfica entre países de Língua Portuguesa, um dos homens mais cultos que este país já contou entre seus ilustres filhos, afirma que, desde 1911, vem impondo-se, na língua culta, a regra segundo a qual só se escreverá –eano quando a sílaba tônica do derivante for “e” tônico ou ditongo tônico com base em “e” ou, em que, mesmo átono, o “e” for seguido de vogal átona. Exemplos: arqueano (Arqueu), daumeano (Daomé), egeano (Egeu), galileano (Galileu), lineano (Lineu). Os demais serão sempre em –iano: acriano (Acre), ciceroniano (Cícero), freudiano (Freud), Camiliano (Camilo) etc.

Em obediência a essa regra, teríamos de escrever acriano (com “i”).De qualquer forma, quem elabora a evolução, quem faz a língua, contrariando, às vezes, a forma proposta pelos gramáticos e filólogos, é o falante. E este, no caso específico, ainda não decidiu nada. Percebo que começam, agora, a avistar, pela primeira vez, o adjetivo gentílico “acriano”.

Algumas pessoas até se assustam e pensam tratar-se de erro crasso, uma gralha condenável. Assim, embora os gramáticos e dicionaristas tradicionais como “Aurélio” e “Houaiss” tragam acriano como ‘a melhor forma’, não se pode perder de vista que o uso faz a forma. E desde que o Acre é Acre sempre se escreveu acreano.

Tenho 61 anos e nunca vi outra grafia aqui em nossa terra. Seria o caso de indagar-se à população, por um plebiscito, se desejam ser “acreanos” ou “acrianos”. A depender de uma resposta positiva pela nova grafia, que ora figura em textos oficiais e em jornais locais, haveria um Projeto de Lei confirmando a nova forma.

Esta seria comunicada aos poderes constituídos para adoção do uso nos documentos oficiais, livros, cartórios etc. Não se muda uma forma pelo gosto de uns poucos e sim pela opção da maioria das pessoas.Desse modo, compreendo que somente o futuro dirá se a forma predominante será acriano (com “i”) ou acreano (com “e”).

A própria autoridade competente poderá, futuramente, determinar qual a forma oficial a ser utilizada. Também poderá deixar permanecer as duas formas: acreano e acriano. É estudo que pode ser solicitado à Academia Acreana de Letras. Consideram-se, ao final, as sábias palavras de Fernão de Oliveira (1536), nosso primeiro gramático, ao dizer: ‘os homens fazem a língua e não a língua os homens’.

Entrevista com Florentina Esteves, membro da Academia Acreana de Letras, Cadeira N° 4, Posição 3.

Entrevista: Vássia Vanessa da Silveira e Marcos Vinicius NevesFotos: José Diaz.
Até os dez anos de idade, a pequena Florentina se entreteve com o entra e sai dos hóspedes no hotel de seus pais, o Madrid. Antes dos 20, ela desfez um noivado quase à beira do altar e resolveu ir para o Rio de Janeiro se dedicar aos estudos. Formou-se em Filosofia e foi professora de Francês. Hoje, aos 69 anos, é a escritora Florentina Esteves. Autora de livros como "O empate" , e "Enredos da memória", ela nos recebeu em sua casa para uma conversa sobre a antiga Rio Branco e a importância de algumas lembranças na construção de sua prosa.
Algumas verdades se tornam dominantes demais e não deixam aparecer outras partes, que é a história vivida pelas pessoas. É o que acontece com a história da imigração estrangeira aqui no Acre, por exemplo. Todos os livros, autores e historiadores dizem "os cearenses, os nordestinos...".
E houve imigração estrangeira.
E a senhora, mais do que ninguém é uma legítima representante dessa outra parte da migração, da construção, da constituição da sociedade que não foi contemplada pela história oficial. A senhora poderia falar alguma coisa sobre a chegada desses imigrantes?
Olha, eu posso te falar daquilo que na época se chamava "os turcos da rua da frente". Esta rua que hoje se chama Eduardo Assmar, que chamava 17 de Novembro, que chamava Abunã, e que todo mundo falava "rua da frente", de uma ponta a outra, desde um pouquinho antes do Cine Recreio, até aqui a descida da catraia do rio, era toda de imigrantes árabes, sírios, libaneses, turcos. Gente lá do Oriente. Havia apenas com exceção um espanhol chamado Manoel do Madrid, porque ele foi dono do Madrid antes do meu pai. E uma francesa, lá na Rua Cunha Matos, onde hoje é o Atlético.
Isso já na década de 50?
Não, isso era em 40, por aí.
Agora esses turcos tinham diferenças entre eles. Como a senhora falou, eram sírios, libaneses... Havia grupos dentro desses grupos?
Eu não sei te precisar quem era sírio, quem era libanês, quem era turco. Eu era muito criança para me ligar nesses detalhes. Eles todos eram chamados de turcos.
Que era uma forma de preconceito.
Identificação. Talvez um pouco de preconceito, eu não sei.
E quanto aos espanhóis, será que havia alguma forma de discriminação?
Não, não. Havia de espanhol o meu pai, Avelino Esteves. E quando ele morreu, minha mãe gostava tanto da Espanha, que casou com o segundo espanhol que existia aqui no Acre, que era o José Rodrigues.
A sua mãe é acreana mesmo?
A minha mãe é paulista, de Santos. E nasceu em Santos por acaso. Porque meus avós viajavam demais. Andaram na Europa, no Oriente, nos Estados Unidos, em toda parte.
A dona Teresa e seu Zé Ticarelli?
Não, esses eram bisavós. Meus avós eram Maria e José Ferrante. Vamos esquecer o José Ferrante por enquanto, que ele foi o segundo esposo da minha avó. Minha avó casou com um senhor chamado Vicente Jordan, lá na Itália. Gostava de corrida de cavalo, gostava de ter dinheiro no bolso, de aventuras, gostava de viajar demais. Minha avó conhecia todas as obras, todos os teatros da Europa. Porque a mania dele era ir à ópera e ao teatro lá da Europa. Lá pelas tantas, ele resolveu ir para Nova Iorque, EUA. Montou um comércio qualquer, que eu não sei exatamente o que era, e lá nasceram dois ou três filhos, dos quais um deles o Domingos Jordão, que morreu recentemente. Um belo dia meu avô está caminhando por uma rua qualquer de Nova Iorque, vem um sujeito por trás e dá dois tiros nele. Era a Máfia que tinha uma diferença com um primo dele, que se vestia igual, tinha altura igual, aparência igual, e ele pegou o tiro. Foi morto por engano. Minha avó, quatro filhos pequenos, queria denunciar o rapaz que o matou. Aí a Máfia foi a ela e disse assim: ?Se você fizer isso, fim. Acaba o resto da família?. Ela então foi no cais do porto, reservou uma passagem, arrumou os panos dela e pegou um carro. Embarcou para São Paulo mas, antes, passou na delegacia e fez a denúncia. Depois ela achou que São Paulo era perto demais para a Máfia alcançar. Então veio para o Acre onde moravam a mãe dela e o padrasto, Teresa e José Ticarelli. Nessa época meus bisavós tinham um hotel aqui, onde hoje é o Comercial Silva. É uma história rocambolesca...
LEIA O TEXTO NA ÍNTEGRA

Robélia Fernandes, Membro da AAL, lança livro


A ACADEMIA, OS BENS SIMBÓLICOS E OS DOIS TERRITÓRIOS


Por Clodomir Monteiro (Presidente da AAL)

As comemorações dos sessenta e seis anos da Academia Acreana de Letras terão seu início na noite do dia 15 de novembro, durante o Sarau da Casa da Gameleira.Alguns escritores estarão lançando seus livros e, entre eles, o autor deste artigo, e o laureado poeta, de Sena Madureira, Jorge Tufic.
No dia 17 de novembro a partir das 9 horas,em sua sede provisória, em assembléia extraordinária, a AAL estará escolhendo os sucessores de onze cadeiras vacantes. No dia seguinte, a partir das 19 horas, no Teatro Helio Melo, com convidados e autoridades presentes, entre eles o confrade historiador Leandro Tocantins, a AAL apresentará os novos acadêmicos e aprovará os atos e documentos que a tornarão pessoa jurídica de direito. Na ocasião serão entregues diplomas a vários acadêmicos.
A AAL é igual e diferente das outras.Ela reflete seu ethos e atua sobre o mesmo. Filtrando as tendências da época, como instituição,e através do desprendimento de seus membros, ela deverá ser espelho e farol.
Deve manter – se virtualmente integrada ao mundo e, localmente, congregar os membros efetivos para aprofundar, em suas sessões, a compreensão das tendências contemporâneas, bem como rever para decifrar a produção regional e universal.
É permanente a cooptação das novas safras de autores, através do recurso legítimo da escolha secreta ou aberta, e democrática, daqueles que despontam, ou tardiamente reconhecidos, à altura de serem paradigmas de expressão estética em língua portuguesa. Sem descuidar de interagir com as múltiplas expressões artísticas.
A AAL não escusará manifestar – se, sempre que houver discriminação e constrangimento das liberdades coletivas e individuais. O que teria movido aqueles quatro amigos a registrar,no dia 15 de janeiro de 1938, os primeiros instituintes da AAL do Acre? Apenas para que a criança não desaparecesse , pelo menos do papel?
A resposta talvez esteja na perspectiva dos parágrafos acima.Ou seja, eles estavam acreditando na verdade insofismável da vocação do homo sapiens demens. Como sabemos somos filhos da ferramenta essencial de toda arte mental: o símbolo. A razão e o delírio nos constituem e nos consomem. Amanajós Araújo, Paulo Bentes, José Barreiros e Felipe Pereira, apostaram na eficácia dos bens simbólicos, repletos de lógica e emoção.
A AAL é uma instituição que tem história. Se for estruturada e apoiada pelos órgãos públicos, ela terá condições de promover conferências, publicar, e republicar, obras que, atuando no e com o imaginário, colaborará para aprimorar a apreensão dos padrões básicos da expressividade humana.Seria bom que a AAL participasse da vida cívica, desempenhando funções nem sempre manifestas, por seus próprios membros e analistas culturais. Como farol, não deixará de orientar por onde deve caminhar a identidade artística.
Cabe–lhe absorver os novos tempos, que hoje pedem o resgate de sua história, reestruturação de seus quadros, convalidação de atos anteriormente praticados por ela.A eleição dos futuros ocupantes, na posição três, das onze cadeiras dos imortais vacantes, consolida a tradição das academias, tornando a nossa igual às outras, com a peculiaridade de possuir um quadro especial de quatro cadeiras honoríficas.
A assembléia para convalidar o passado e garantir a identidade jurídica desde lá, e doravante, ratifica momentos decisivos. Em 1937 a criação da AAL, em 1967, em sua maioridade trintona festiva e testemunhal, ganhou dos acadêmicos deputado Francisco Thaumaturgo e governador Jorge Kalume, o direito de intitular-se de Utilidade Pública. Em 2003, na noite solene do dia 18 de novembro, encerrando os festejos dos 66 anos, a AAL deverá conquistar sua personalidade jurídica.
Não foi por acaso que os fundadores da AAL escolheram o dia 17 de novembro e não outro. A completude de um povo, como estado ou nação, configura-se através da ocupação de dois espaços. O geopolítico e o cultural. Embora ambos se impliquem, cada um tem suas peculiaridades que os agregam. São dois territórios que preencheram os requisitos para nossa plena autonomia.Histórica e cotidiana. Se não há nação sem povo e território, não haverá a primeira sem sua identidade.
A assinatura do tratado de Petrópolis, há cem anos, marcou simbolicamente a posse territorial.O espaço da identidade acreana, e universal, pode ter relações diretas com a fundação da AAL. Daí nossa alegria em termos também ,conosco, nas duas comemorações,nosso acadêmico, um dos fundadores da AAL,nos dois territórios, Leandro Tocantins.
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Academia Acreana de Letras empossa Tião Viana e Silvio Martinello

Os novos imortais senador Tião Viana e jornalista Silvio Martinello com as respectivas madrinhas no dia da posse, com o governador Jorge Viana e o prefeito Raimundo Angelim